Recomeço

Blog velho, template novo. Esse conto eu escrevi pra uma matéria da faculdade.

Reflexo

Me vi ali. Parada, nua, na completa escuridão. Me sentindo tão vulnerável mas ao mesmo tempo tão livre. Foi desses momentos que você vive e percebe que está vivendo. Não daqueles que você só lembra depois que sabe que não vão acontecer mais. Engraçado, como se você pudesse viver e assistir ao mesmo tempo. Simultaneamente fazer e observar uma expressão facial. Observar no escuro. Eu já falei que estava escuro? Escuridão que me vestia, apesar de estar nua, e que me despia de minhas defesas. Que era escudo e que me deixava ali, disponível. Era tudo escuridão e silêncio e eu ouvi meu coração, não como os poetas e pagodeiros fazem, eu literalmente ouvi as batidas. Foi estranho, subitamente percebi que tinha um coração. Me percebi como viva, como pensante. Eu estava viva, e havia uma bateria de escola de samba pulsando no meu peito pra me provar isso. E era tudo vazio, onde havia coisas agora não havia nada. E não havia mais cheiro nem som. Nada além do meu coração que batia e batia. Pois e só em meio ao nada que se ouve o coração. E é no meio do nada, onde teoricamente nada podia me atingir que eu senti medo. O medo mais infantil de todos, o medo do escuro. O ridículo medo do nada. E de repente, a cegueira pelas trevas tornou-se a cegueira pelo excesso de luz. A energia tinha voltado e enquanto recuperava a visão foi se materializando ali, diante de mim, o reflexo do meu corpo nu e ensaboado no vidro blindex do banheiro.

Ana Paula Abreu

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